Vó, você sabe fazer
calda de chocolate? Não, Leozinho, por quê?
É porque eu queria... Se você me ensinar, eu faço.
Então, tá. Preste
atenção, vó: Um copo de água, duas colheres de leite em pó, duas colheres de mucilon,
uma colher de toddy. Mexa bem e está pronto. Fácil, não é?
Isso sem tirar os olhos da TV, porque estaria jogando um jogo
muito importante. E, até aquele momento,
segundo ele, eu não poderia sair de perto, porque atuava como sua assistente.
Com a permissão do “chefe”, fui pra cozinha, fiz a tal calda
de chocolate, Leozinho experimentou e disse:
Está uma delícia. Você caprichou! Sabe por que ficou gostosa, Leozinho? Porque foi você quem me ensinou. Ele,
concentrado no joguinho, sorrindo: É?
Como disse Leozinho, de vez em quando, capricho. Arvoro-me em
boa cozinheira. Gosto, sei fazer alguma coisa, mas não tenho aquela prática de
fazer tudo rápido, gostoso e bonito, como uma boa gourmet o faria.
Tenho meus truques, claro. Na primeira vez de uma receita,
cumpro todo o ritual. Depois, vou
mudando aqui e ali, até ficar do meu jeito.
Mas não sei se acontece com você o que acontece comigo. Quando
copio uma receita de uma pessoa de quem gosto muito, a comida fica uma delícia.
Foi por isso que falei com Leozinho que a calda ficou gostosa. Foi ele quem me
ensinou, ora.
O certo é que as receitas ensinadas pelos amigos ficam todas
gostosas, mas há duas que merecem maior registro. Não erro nunca. Uma é de uma
tortinha de frango da Zilá, minha comadre. É muito gostosa. Todos saboreiam com
prazer. Faço de vez em quando. A outra é
a broa da Janice, outra comadre querida.
Ela diz que a receita não é dela. Não interessa. Já está registrada
assim: Broa da Janice. Os direitos autorais desta feita que se cuidem...
Veja como tenho razão. O filme “Como água para chocolate”,
baseado no livro homônimo, conta a história de Tita, uma moça que proporcionava
afetos e sensações para quem tinha o privilégio de desfrutar de seus pratos.
Ela transmitia para a comida os sentimentos que nutria no momento em que
trabalhava aqueles quitutes. Com as adversidades da vida, nem sempre Tita
estava feliz. Ocorreu que fazendo um bolo de casamento, Tita estava tão
infeliz, que deixou cair lágrimas na massa do bolo, adoecendo todas as pessoas que dele comeram.
Explicado está como as receitas dessas minhas amigas ficam
gostosas. Ali está o amor e o carinho que tenho por elas. Então, a calda de chocolate do Leozinho não
tinha, mesmo, como ficar ruim.
O resultado final é de “dotô cumê e lambê os beiço”, como
diria um velho amigo de minha mãe.
Maria Francisca – abril de 2016.