"Fiz um acordo com o tempo: nem ele persegue, nem eu fujo dele". Mário Lago.
Seu
telefone? Seu CPF? Seu CEP?
E assim foi seguindo o
interrogatório de uma vendedora numa loja, onde comprei uma simples bijuteria.
Antes eu me negava a
fornecer meus dados, uma chateação, mas vi que era mais trabalhoso negar. Em
alguns estabelecimentos é uma exigência para emissão de nota fiscal. Mas ali...
Querem atormentar os clientes com os torpedos, anunciando as “maravilhosas”
promoções. Antes de terminar o
“interrogatório”, só para implicar, pergunto: Para que servem esses dados? Para seu cadastro. E o que você faz com
meu cadastro? Uso quando você voltar aqui, responde. E quem falou com você que eu vou voltar? A pergunta fica no ar. Ela
continuou a perguntar e eu a responder obedientemente. Nem ela sabia a
finalidade daquele ritual. Acostumou-se a fazer aquilo, como lhe mandaram, e
pronto.
Por fim, a moça perguntou
a data do meu nascimento. Antes que eu respondesse: Não, não, é só dia e mês. Porque muita gente não gosta de falar a
idade. Eu não tenho esse preconceito, moça. Nasci dia 11 de outubro de 1948,
tenho 66 anos de idade. Ela riu. E eu saí da loja.
Caminhando pela rua,
fiquei pensando nisto: Por que será que as pessoas, principalmente as mulheres,
não gostam de revelar a própria idade? Medo? Mas se a idade está à vista... A
menos que se faça uma cirurgia plástica geral, a idade sempre aparece. Aliás,
acho até que nem assim. Aqui e ali, vai ficar algum rabo. E não adianta tratar de terceira idade, melhor idade, porque
a velhice está aí a merecer cuidado e respeito, não preconceito.
Sou velha, sim, e não
me preocupo. Assumo minha velhice sem medo. E ainda proclamo minha idade para
quem quiser ouvir. Claro, cuido da aminha saúde, da minha aparência, gosto de
roupas bonitas, mas sem os exageros da juventude, que já se foi faz tempo. Não
fujo do tempo, como disse Mário lago, mesmo porque de nada adiantaria. A
velhice vem, quer queira, quer não.
Fato é que amo a vida e
já fiz um pacto com ela. Conheço quase todas as cláusulas, menos uma: a do
término do contrato. Por que fiz um pacto assim? Conheço o Dono da Vida e
confio nEle. E, no final, ganho a Vida
Eterna.
Vou vivendo alegre, como sempre fui, e ela aqui, comigo, também feliz, minha companheira,
que me sustenta e me conduz. No dia em que ela não me quiser mais, viajo
tranquila. Estou aprendendo o caminho, pouco a pouco.
Não mais vou ter esse
problema de pacto, de velhice, de beleza, de cuidar da saúde, nada disso. Vou
morar num lugar distante, numa casa diferente. Lá nessa Casa, onde passarei a viver, tem
muitas moradas e todos são saudáveis e felizes (Jo 14, 1-2). Claro, se eu
cumprir todas as cláusulas do contrato. A mais difícil, mas a mais importante,
pois dela dependem as demais é esta: Amai-vos
uns aos outros como eu vos amo (Jo 15,12). Dia a dia, esforço-me, mas,
humana demais, caio, levanto, tento de novo e vou levando. Espero poder cumprir
a minha parte no contrato.
E vou caminhando nesta
estrada que, como diz Fábio de Melo, não fica no chão sob os meus pés, mas
dentro de mim mesma.
Maria Francisca – março
de 2015, tempo quaresmal.