Água com adoçante acalma?
Para
Elzimar
Eu era titular da 6ª
Vara de Vitória, mas atuava no tribunal, porque o TRT-ES, na época, era
composto de apenas seis juízes de carreira e dois classistas e não podia ser dividido
em turmas. A lei proibia. Havia sempre
necessidade de um juiz convocado para dar conta da imensidão de processos,
principalmente quando um dos membros titulares se afastava em gozo de férias ou em licença
médica.
O gabinete dos juízes
convocados, que nem merecia o nome de gabinete, funcionava num quase porão, sem
um mínimo de conforto. Tinha até mofo. Nem tudo era ruim, porém. As servidoras
eram ótimas, todas comprometidas com o trabalho que realizavam, embora em condições mais
do que adversas. E o trabalho rendia.
Um dia, analisava, como
relatora, uma ação rescisória, com número expressivo de autores, todos servidores
de determinado órgão público. O objetivo buscado era rescindir uma sentença que
lhes havia negado o pedido de adicional de insalubridade.
A decisão impugnada
julgara improcedente o referido adicional, porque a perícia realizada concluíra
pela inexistência de qualquer agente agressivo no ambiente de trabalho. Os
fundamentos da ação rescisória eram simples, aliás, simplórios, e, portanto, desprovidos
de força processual. Já à primeira leitura, previ o insucesso daquela ação.
Pois bem. O órgão
público, no limiar de nova gestão, resolveu fazer um acordo para pôr fim à ação
rescisória e antecipou todo o pagamento ao advogado.
Ele chegou ao gabinete
dos juízes convocados muito feliz e, depressa, dirigiu-se a mim, mostrando o
termo do acordo. Li o documento com atenção e disse: Doutor, desculpe, mas não
posso homologar um acordo desses e tenho certeza de que os demais colegas vão
acompanhar meu voto. E expliquei os motivos, inclusive a ilegalidade do ato. O advogado nada disse. Sentou-se e ficou ali
quieto, olhando o nada, pálido como cera.
Preocupada com a mudez e com a aparência do advogado, pedi
a uma servidora para buscar água com açúcar para ele, no andar de cima, já que o
gabinete, como disse, era desprovido de tudo. Enquanto isso, eu, patética,
abanava-o com uma capa de processo, pois parecia em vias de desmaiar.
A servidora retornou
bem depressa e o advogado tomou a água. Foi se acalmando, pouco a pouco,
melhorou, agradeceu e saiu apressado.
Mal ele acabou de sair,
a servidora, rindo, me disse: Dra. Francisca, eu não encontrava açúcar de jeito
algum, então coloquei adoçante na água. Será que água com adoçante acalma?
Rimos as duas...
Maria Francisca - abril de 2015.
Francisca, muito bons seus textos. Linguagem escorreita e acessível a todos os seus leitores.Parabéns. Que bom você ter voltado a movimentar seu blog, que é bem elaborado. Poderemos trocar ideias em nossos blogs. Abraços
ResponderExcluirOi, Geraldo, obrigada. Você é muito gentil. E elogio vindo de filólogo vale mais, ainda que o filólogo seja seu amigo. Vamos trocar ideias, sim. Vou lá no seu blog dar uma olhada. Um abraço.
ResponderExcluirAmiga Francisca, na primeira oportunidade faço o teste. Mineiro gosta de causo, assim escrito então... Grande abraço.
ResponderExcluirAmiga Francisca, na primeira oportunidade faço o teste. Mineiro gosta de causo, assim escrito então... Grande abraço.
ResponderExcluirAmiga Francisca, na primeira oportunidade faço o teste. Mineiro gosta de causo, assim escrito então... Grande abraço.
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