Voz de
neto é música para meus ouvidos
Sentada prazerosamente na varanda, lia
um belo livro, aliás, nome sugestivo, “O livro dos abraços”, de Galeano, enquanto
aproveitava o ventinho gostoso que vinha do mar. De repente, um som intrometido
e característico interrompe minha leitura. Abro o celular e leio: Vó!
É assim que os netos Gustavo e Gabriel costumam
fazer. Lançam um “vó” no whatsapp,
para que eu entre on line e eles
falem o que desejam, principalmente quando estão fora de casa.
Hoje o Gabriel resolveu telefonar. E quase chorando,
porque esquecera na mochila do Inglês o material que teria que levar para a
aula. Ligou para meu celular, mas não ouvi. Quando ligou de novo, talvez
pensando que eu não iria atender ao telefone de casa, já estava com voz de
choro. Vó, cê tá aí?
De uma outra vez, era o Gustavo. Telefonei, para
ganhar tempo. Queria recomendar o tipo de ovo de páscoa que desejava e teria que ser depressa, porque só era
encontrado nas Lojas Americanas.
O dia inteiro ouço esta cantilena: Vó, faz isso para mim, vó, me leva em tal
lugar, vó, você pode me levar à escola hoje? Vó, você traz pra mim o caderno
que esqueci em sua casa? Vó, faz macarrãozinho pra mim. Ou, então, no meu
ouvido, quando viajamos: vó, quantos
chinelos você trouxe? Nesse caso, já sei que esqueceu os próprios chinelos
em casa. Daniel não telefona, mas é
mestre em falar de presentes de nome esquisito. Teté (é assim que ele me chama), o presente que quero no meu aniversário é... ( e fala um nome que
não entendo), mas você pode olhar isso na
internet, tá? E quando está aqui em casa, pergunta depressa: Você pode
me levar à escola? Leozinho, por
enquanto, só me pede pra brincar com ele. E temos longas conversas nas
brincadeiras. Pedro, ainda muito pequeno
e morando no exterior, fica só na saudade.
É uma relação interessante essa de avós e netos.
Quem não se lembra do tempo de criança em casa de avós? Eu, de vez em quando,
me vejo pequena, sentada em volta de uma enorme fogueira, escutando meu avô
contar histórias. Ou com minhas tias, pescando lambaris num riozinho de águas
transparentes.
É uma relação tão prazerosa, que fico a imaginar
como fazem, ou como sentem as avós, quando são impedidas de ver os netos. Digo
isso, porque há separações de casais em que um dos cônjuges está tão magoado
que impede ou dificulta a relação das crianças com a família do outro. Deve ser
muito triste.
Por isso, quando um neto me chama, não tem livro
bom, não tem ventinho gostoso, não tem nada.
Só tem o neto me chamando...
Maria Francisca – maio de 2015. Publicado, inicialmente, no site: www.questoesdefamilia.com.br
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