domingo, 13 de dezembro de 2015

Eu tenho estilo?



Eu tenho estilo?

Dia desses, li uma notícia em que uma atriz dizia que estava adorando fazer uma personagem de cara lavada, já que detesta maquiagem. Eu também não gosto, aliás, gosto, mas não todo dia. De vez em sempre me rebelo e saio sem nada, de cara lavada, mais para protestar contra essa ditadura que escraviza as mulheres: cabelo sempre arrumado (fios brancos nem pensar, a menos que seja por conta de alguma tintura da moda), tem que ser magra, sarada, barriguinha, afe! E bem arrumada e cheirosa, mesmo no fim de uma jornada estafante.

Então, tá. Tenho uma bermuda de um tecido que parece náilon, tipo pula-brejo, que se pode embolar e colocar na gaveta, depois tirar e vestir. É dessa que gosto. E visto muito. Vou ao supermercado, ando pela rua, vou a lojas. Se não quiserem me vender por achar que não tenho dinheiro (sempre nos avaliam pela aparência), paciência, bato-me em retirada e vou pra outra loja. Não me submeto. Só me arrumo, se tenho vontade. Claro, não vou a uma festa mal arrumada, porque seria menosprezo à festa e ao dono da festa.

Outro dia, fui a um banco em que tenho conta. Quando a agência era comum, eu ficava constrangida de ser atendida numa sala reservada, por ver os demais naquele filão. Agora, a questão é outra. Cada sala é reservada: Agência Estilo. Cheguei lá, com minha bela bermuda pula-brejo, pois a tal agência fica perto de minha casa, e dirigi-me à atendente. A primeira coisa que ela fez antes que eu abrisse a boca foi perguntar: “A senhora tem conta aqui?” Eu quase respondi: “Não, estou aqui porque não tenho o que fazer e gosto de passear em banco.” Informei o número e, quando ela acessou o arquivo, disse que queria talão de cheques e fui para um caixa eletrônico. Ficar ali esperando uma vida, só por talão de cheques?
Mas, surpresa, a palavra estilo, que passei a abominar, foi usada em relação a mim, numa loja. Vestia a mesma bermuda e vi uma roupa bonita numa vitrine. A vendedora me viu, abriu a porta e eu entrei. Perguntei sobre a roupa, mas não tinha meu número. Ela, então, disse: Temos outras peças que a senhora pode gostar. Eu disse: Será? E ela: São roupas muito bonitas e a senhora tem estilo.

E o que é “estilo”? Entre outros significados, o Houaiss registra, com sentido figurado: “conjunto de tendências, gostos, modos de comportamento característicos de um indivíduo ou grupo” [... ] “elegância no vestir”.

Pois é. Eu não estava elegante, coisa nenhuma. Ou estava muito esquisita? O que ela quis dizer com isso?
Sem esperar minha conclusão pessoal, reflexiva ou intelectiva, ri, agradeci e saí.
Estilo, eu? Como aquele banco? Eu, não...


Maria Francisca, novembro/2015.

3 comentários:

  1. Francisca, minha amiga, que surpresa boa o seu blog!
    Descobri há pouco tempo, mas já virei um leitor voraz.
    Você, como sempre, com a sua sensibilidade, humor e sabedoria, toca e conquista todos que têm o privilégio de conviver com você.


    Me lembro quando te mandei uma mensagem, questionando exatamente a finitude da vida, de como ela é efêmera etc. Você me sugeriu que lesse " a medida do homem". Quando li, fiz uma reflexão e fiquei muito mais sereno, pois compreendi a sua concepção de imortalidade (do Daniel também, é claro!).

    Continue nos presenteando, compartilhando seus belos textos.

    Parabéns, "Tatuuuu" ! rsrs

    Bjão

    Matheus Pertence.

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    1. Oi, Matheus. Que bom que você gostou. Fico feliz que meu texto tenha lhe trazido conforto para a alma. Bjs.

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    2. Oi, Matheus. Que bom que você gostou. Fico feliz que meu texto tenha lhe trazido conforto para a alma. Bjs.

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