[...] vaidade das vaidades! Tudo é vaidade.
Eclesiastes, 1, 2
Eu sempre digo que sou simples, sou humilde. Daí vem minha
vaidade. Será?
Ontem, uma senhora elogiou meus cabelos. Eu agradeci. Outra
que estava perto disse: Ela é toda bonita. Ao que a primeira retrucou, rindo:
Só não falei pra ela não ficar muito vaidosa. Rimos e eu completei: É, mesmo. Vou
ficar inchada. Rimos todas.
Lembrei-me disso, por uma bobagem que me aconteceu, hoje. Caminhava
no calçadão, como de costume, “me achando” como dizem, porque todos elogiam
minha boa forma física. Já estava como a rã da fábula. Estufava o peito e
andava, andava.
Ai, passou um senhor com um passo normal, comum, e foi à
frente. Não consegui acompanhá-lo. Pensei: Que nada, é homem. As pernas são
maiores, mais fortes do que as minhas. E continuei me achando.
Daí a poucos minutos, vem uma senhora, no dizer de muitos,
senhorinha, porque não se pode mais dizer uma idosa (não sei por que se a lei
nos chama de idosos. Só se a palavra caiu de moda), rápida e fagueira,
passou-me à frente e seguiu firme e forte.Aí, minha vaidade foi pro brejo... Murchei.
Cada dia descubro uma desqualidade minha (pra não falar
defeito, rs). Que sou preguiçosa, isso já sabia desde sempre. Às vezes, dá vontade de fazer como sugeriu
Pedro a Jesus (Lucas, 9,33): “Mestre, é bom estarmos aqui. Podemos levantar
três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”. Principalmente
quando tenho muita coisa para fazer e não sei por onde começar.
Já´ falei no poema Confissão
(In Sal, pimenta e ternura) que sou
invejosa: “Tenho inveja! Descobri esse
sentimento pobre, podre e disforme”. Mas só de vez em quando. Claro. Tento
me fazer gente. Mas é difícil, às vezes, não ter uma invejazinha. Leio sempre
sobre a inveja, porque esse “pecado capital” o mais horrível de todos. Zuenir
Ventura, por exemplo, escreveu “Inveja, mal secreto”, parte daquela coleção
Plenos Pecados, da Editora Objetiva. Nele, Zuenir tenta revelar
algumas facetas desse pecado inconfessável. Já Nilton Bonder, em “Cabala da
Inveja”, faz distinção entre ciúme e inveja. No ciúme, queremos obter algo para
nós, independente da pessoa que tenha aquele algo que queremos. “Sonhamos nos tornar o objeto do amor ou do
prazer que imaginamos que o outro desfruta; uma vez que isso aconteça, o
indivíduo de quem tínhamos ciúme já não nos interessa. O ciúme tem seu centro
em nós mesmos.” Na inveja o foco é o outro. O invejoso passa a ser refém do
outro. Não quero algo para mim, quero que o outro não tenha esse algo. O Rabino, então, traz o exemplo de Caim (interpretando
Gên 4:6). Caim ficou com muita raiva, não porque Deus não aceitou sua oferta,
mas porque aceitou a oferta de Abel.
Querem saber de
uma coisa? Chega de falar de minhas desqualidades. Daqui a pouco, sento num
canto e choro, pensando que sou péssima.
Tenho meus
defeitos, mas tenho também minhas virtudes.
Quem é perfeito?
Só Deus.
Maria Francisca –
março de 2015, num dia de reflexão.
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