quarta-feira, 16 de abril de 2014

É A VOVÓ!



Hoje (31/01/2014), andando pelo calçadão da Praia de Itaparica, vi um senhor com uma menininha, tomando banho de chuveiro, naqueles chuveirões de praia, que jorram um aguaceiro e faz a alegria da criançada.

Ela ria e enfiava a cabecinha debaixo do chuveiro. Eu que não posso ver criança que vou logo procurando falar alguma coisa, parei e disse: Que delícia, hein, fofinha? Que banho gostoso! Ela me olhou, sorriu e tornou e se enfiar debaixo do chuveiro. O homem, que tinha a criança ao colo, tão logo recomecei a andar, disse para a menininha, bem alto: É a vovó. Dá thau para ela. Eu, alegremente, parei, olhei de novo e fiz o gesto de adeus para a criança e disse: lindinha!

No momento, não pensei nada demais, porque tenho cinco netos e adoro quando alguma criança me chama de vovó.  Depois, fui achando aquilo interessante, porque as pessoas, normalmente, não falam para as crianças que as pessoas estranhas que encontram são avós, mas apenas tias, porque têm medo de ofender, já que mulheres, em geral, não gostam de parecer velhas. E o tom de voz do homem me incomodou.

Fiquei matutando e aí, me toquei.  O tom era irônico, ou, talvez, pedante.  Ele deve ter pensado que brinquei com a criança para me aproximar dele. Bingo: foi isso. Ô vaidade besta!

Aí, comecei a rir sozinha, porque me lembrei de três episódios parecidos, na ficção. Um, foi no filme Julgamento em Nuremberg, quando a personagem Dan Haywood (Juiz-chefe do Tribunal), na atuação de Spencer Tracy, chegou a uma lanchonete russa e viu uma moça bonita tomando algo. Aproximou-se dela, todo faceiro, conversaram um pouco, ela sorria. Quando saiu, disse-lhe alguma coisa. Como ele não entendeu a língua, perguntou à garçonete: O que ela disse? A moça respondeu: Ela disse thau, Vovô!...

Outro episódio é de uma crônica do Rubem Alves. Diz ele que estava no trem, em pé e olhava pra lá e pra cá, como todo escritor, porque fica a observar tudo e reparou que uma bela moça, que estava sentada, também lançava olhares como ele, por todos os lados. Num momento, seus olhares se cruzaram, a moça sorriu e ele ficou todo feliz. Momento seguinte, decepção, a moça levantou-se para dar-lhe o lugar.

E, por último, o conhecido Tio Sukita, que deve ter se inspirado no Rubem ou no filme Nuremberg. Uma moça bonita entra num elevador, tomando um refrigerante e encontra alí um homem de meia idade, que fica tentando conquistar a menina, até que ela lhe diz: Tio, aperta o 21 para mim...

A diferença, meu senhor, é que estamos vivendo. Isso é real e não ficção. Eu estava prestando atenção apenas na criança... Não sei se você era bonito, feio, velho, ou novo e o meu sorriso para a criança, após ser chamada de vovó, deve ter-lhe mostrado isso.

Seria muito engraçado se eu, no alto dos meus 65 anos, ficasse por aí tentando conquistar homens, por meio de criancinhas graciosas...

Tomara que tenha acordado para sua idiotice.

Maria Francisca – 31/01/2014.

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