Hoje (31/01/2014), andando
pelo calçadão da Praia de Itaparica, vi um senhor com uma menininha, tomando
banho de chuveiro, naqueles chuveirões de praia, que jorram um aguaceiro e faz
a alegria da criançada.
Ela ria e enfiava a
cabecinha debaixo do chuveiro. Eu que não posso ver criança que vou logo
procurando falar alguma coisa, parei e disse: Que delícia, hein, fofinha? Que banho gostoso! Ela me olhou, sorriu
e tornou e se enfiar debaixo do chuveiro. O homem, que tinha a criança ao colo,
tão logo recomecei a andar, disse para a menininha, bem alto: É a vovó. Dá thau para ela. Eu, alegremente, parei, olhei de novo e fiz o
gesto de adeus para a criança e disse: lindinha!
No momento, não pensei
nada demais, porque tenho cinco netos e adoro quando alguma criança me chama de
vovó. Depois, fui achando aquilo
interessante, porque as pessoas, normalmente, não falam para as crianças que as
pessoas estranhas que encontram são avós, mas apenas tias, porque têm medo de ofender,
já que mulheres, em geral, não gostam de parecer velhas. E o tom de voz do
homem me incomodou.
Fiquei matutando e aí,
me toquei. O tom era irônico, ou,
talvez, pedante. Ele deve ter pensado
que brinquei com a criança para me aproximar dele. Bingo: foi isso. Ô vaidade
besta!
Aí, comecei a rir
sozinha, porque me lembrei de três episódios parecidos, na ficção. Um, foi no
filme Julgamento em Nuremberg, quando
a personagem Dan Haywood (Juiz-chefe do Tribunal), na atuação de Spencer Tracy, chegou a uma lanchonete
russa e viu uma moça bonita tomando algo. Aproximou-se dela, todo faceiro,
conversaram um pouco, ela sorria. Quando saiu, disse-lhe alguma coisa. Como ele
não entendeu a língua, perguntou à garçonete:
O que ela disse? A moça respondeu: Ela
disse thau, Vovô!...
Outro episódio é de uma
crônica do Rubem Alves. Diz ele que estava no trem, em pé e olhava pra lá e pra
cá, como todo escritor, porque fica a observar tudo e reparou que uma bela
moça, que estava sentada, também lançava olhares como ele, por todos os lados.
Num momento, seus olhares se cruzaram, a moça sorriu e ele ficou todo feliz.
Momento seguinte, decepção, a moça levantou-se para dar-lhe o lugar.
E, por último, o
conhecido Tio Sukita, que deve ter se inspirado no Rubem ou no filme Nuremberg. Uma moça bonita entra num
elevador, tomando um refrigerante e encontra alí um homem de meia idade, que
fica tentando conquistar a menina, até que ela lhe diz: Tio, aperta o 21 para mim...
A diferença, meu
senhor, é que estamos vivendo. Isso é real e não ficção. Eu estava prestando
atenção apenas na criança... Não sei se você era bonito, feio, velho, ou novo e
o meu sorriso para a criança, após ser chamada de vovó, deve ter-lhe mostrado
isso.
Seria muito engraçado
se eu, no alto dos meus 65 anos, ficasse por aí tentando conquistar homens, por
meio de criancinhas graciosas...
Tomara que tenha
acordado para sua idiotice.
Maria Francisca –
31/01/2014.
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