“Deus disse: ‘Façamos o
homem à nossa imagem, como nossa semelhança, e que eles dominem sobre os peixes
do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todas as feras e todos os
répteis que rastejam sobre a terra. Deus criou o homem à sua imagem, à imagem
de Deus ele o criou, homem e mulher ele os criou’”.
Esse texto está no
primeiro capítulo da Bíblia, na descrição das origens da humanidade e, numa
interpretação fundamentalista, trata-se de uma verdade histórica, independentemente
do fato de que em todas as culturas existam mitos que relatam a criação. Verdade
histórica, ou não, fato é o que cremos, como cristãos: o mundo foi criado por
Deus. O homem não só foi criado por Ele, mas criado à Sua imagem e semelhança.
Cada dia mais, vemos o
poder do homem. Esse poder que vem de Deus, da inteligência, do raciocínio, da
criação de tantas coisas belas em favor da humanidade e, infelizmente, de coisas
feias também, que destroem, que matam.
Mas vamos falar de
coisas belas. A medicina e o progresso da ciência. Os medicamentos, os
aparelhos sofisticados para detectar doenças, as vacinas contras as mais
diferentes endemias, os aparelhos que ajudam paraplégicos a andar, desde os
mais elementares, a cadeira de rodas, o andador, como aquele mais sofisticado apresentado na abertura da
copa do mundo.
Esses dias, vi uma
reportagem que me encheu os olhos. Uma universidade
do Nordeste criou um sensor que ajuda cegos a detectar objetos à sua frente,
possibilitando-lhes uma caminhada sem os perigos comuns das ruas, como calçadas
nada cidadãs, degraus, orelhões de telefone etc. Localiza-se um sensor na aba
de um boné e um em cada extremidade da bengala.
Trata-se de uma tecnologia baseada no sensor dos morcegos. Esses animais
se orientam no escuro por um mecanismo chamado ecolocalização ou sonar dos
morcegos. Segundo pesquisa da EMBRAPA, esses animais emitem gritos, que
consistem em ondas de altíssima frequência, inaudíveis pelo homem, emitidos
pela boca ou pelas narinas. Esses impulsos de ultrassom, ao atingirem um
objeto, são refletidos em forma de ecos e captados pelos ouvidos. Com esse
sonar, os morcegos conseguem identificar, quando voando, a natureza do ambiente
que os circunda, bem como a forma e a dimensão do objeto. Olhando, a bengala é
uma coisa simples, mas é, sem dúvida, uma das maravilhas criadas pela
inteligência do homem, a serviço do homem. Melhor ainda, uma tecnologia barata,
que pode ajudar inúmeras pessoas.
Por que estou me
lembrando disso, hoje? Porque me submeti
a uma cirurgia de catarata num dos olhos, e catarata e astigmatismo no outro,
com substituição do cristalino por uma lente intraocular multifocal. Já no dia
seguinte, observei a diferença na visão. Penso que o mais incrédulo dos homens
dá Graças quando sente tal mudança na forma de ver o mundo. Uma clareza que
espelha a grandeza de Deus e sua criação. A minha atitude não foi diferente no
dia seguinte à primeira cirurgia: Levantei os braços aos céus e agradeci
comovida a minha clara visão, sem óculos e sem lentes de contato. Agradeci a
Deus a perícia, a gentileza e o cuidado, com que brindou o Dr. Sebastião Leonardo,
o oftalmologista, um vocacionado para a profissão. Eu, que gosto tanto de ler e
escrever, mesmo usando óculos ou lentes de contato no grau correto, estava com
dificuldade para enxergar. Não é para
louvar a Deus?
Entretanto, não posso
me furtar a mais uma reflexão. A tecnologia das lentes, infelizmente, ainda não
abrange a massa de pessoas. O preço é altíssimo. Somos todos iguais, mas como
disse Orwell, uns são sempre mais iguais. Essas maravilhas criadas pelo homem,
criado à Imagem de Deus e, portanto, poderoso, são acessíveis apenas a uns, os mais iguais como eu. Ainda temos um Brasil dividido em dois
países. No dizer de Suassuna, recentemente falecido: “É muito difícil você
vencer a injustiça secular que dilacera o Brasil em dois países distintos: o
país dos privilegiados e o país dos despossuídos”.
Como Deus é poderoso, o
homem, criado à sua imagem e semelhança, também é poderoso. Então, podemos ter
esperança de um dia, termos um, apenas um, grande e belo país.
Maria Francisca – agosto de 2014.