Escuto,
leio e vejo muitas histórias sobre cachorros, principalmente no que se refere à
fidelidade. Esses dias, por exemplo, “A Gazeta” noticiou há algum tempo fatos
interessantes. A cadela Filhinha, “Num belo exemplo de fidelidade e amor,
seguiu seu dono até o Departamento de Polícia Judiciária (DPJ) de Vitória,
depois que ele foi preso por furto”. Segundo a notícia, a cadela acompanhou o
carro da polícia por cinco quilômetros e ficou sentada, esperando, por 12
horas, na porta da delegacia. Outro caso, também noticiado pela imprensa, foi
de Princesa. Ela teria ficado uma semana na porta de um hospital, a esperar por
seu dono, que falecera, vítima de atropelamento. Em ambos os casos, as cadelas
conseguiram novo dono, por adoção. Ainda bem.
O
caso de Mike, entretanto, é singular.Mike é um cachorrinho preto, pequenininho, muito paparicado por todos na casa onde mora. Marina, a dona, casou-se, mudou-se, mas, todos os dias, vinha à casa da mãe visitar Mike. E essa visita durava um tempão, porque Marina aproveitava para passearem juntos pelo calçadão da Praia da Costa, brincavam, corriam pra lá e pra cá e, no retorno, Mike ganhava sua bela ração, com todo o cuidado de uma dona carinhosa.
Marina
ia para o trabalho, despedia-se de Mike, como se despede de uma criança. Ele
ficava deitadinho no seu canto, cachorrinho educado que era, não incomodava,
não sujava nada, nem latia sequer. Todos na casa gostavam muito de Mike.
Quando
Marina estava muito atarefada e não podia sair a passear, era um tormento na
casa. Mike, inquieto, começava a andar de um lado para outro, latindo, e,
quando ninguém lhe dava atenção, deitava-se num canto e começava a ganir, numa
tristeza de fazer dó. Sua arma não
falhava: alguém tinha que atendê-lo, fazendo as vezes de Marina. Isso sempre
sobrava para o Marcos, o pai da dona do esperto cãozinho.Certo dia, Marina, grávida, prestes a ter o filho, deixou de visitar o cachorrinho. Marta, irmã de Marina, implicada que estava com a atenção que davam para aquela, segundo ela, insignificante figura, chegou a casa e disse, bem firme, olhando nos olhos de Mike. Olhe, seu Mike: Vai nascer um bebê. Agora, você não vai mais ser o rei desta casa. Caiu do trono! He, he, he, he! Todos vão se preocupar com Vitor, você não tem mais vez...
Mike
ficou caladinho, deitou-se num canto e ficou ali a ganir, como se chorasse.
Passou-se um dia e nada de Marina visitar Mike, passou-se outro e nada. Chegou
a notícia do nascimento do Vitor. Todos
falavam naquela criança, todos alegres, uma festa, um reboliço. Ninguém
prestava atenção no Mike que vigiava a porta sem cessar. Qualquer movimento,
ele levantava as orelhas, para, em seguida, abaixar o facho, como diria minha
mãe. E voltava para o canto.
Até
que um dia, Mike acordou cedo e resolveu se vingar do seu ostracismo. Deve ter
pensado, se é que cachorro pensa: Vamos
ver se não vão me notar. Saiu correndo para a varanda que estava cheia de
lindas e floridas bromélias do dono da casa e ali fez a festa. Subiu nos vasos
de flores, arrancou-as uma por uma, saiu comendo o que sentiu que podia comer, derrubou
os demais vasos, pisou em tudo, urinou no chão e voltou para dentro de casa,
urinando em tudo que via e sentia, para desespero da família.Não sei como a história vai acabar, porque, mesmo depois que passaram a dar-lhe mais atenção, Mike não se conforma com a perda do trono e continua a fazer estripulias pela casa.
Penso
que deve estar esperando Marina chegar e dizer a ele que, mesmo com o
nascimento do Vitor, ele continua muito amado. Será isso?
Pode ser, também, que Francisco de Assis, o
santo protetor dos animais, segrede uns conselhos em seus ouvidos durante o
sono e a paz volte a reinar na vida de Mike.
A
ver.
Maria
Francisca – agosto/2014.
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