Hoje vi um castelo.
Daqueles grandes, com direito a torres, prisioneiros, ou melhor, prisioneiras
(porque as torres sempre tiveram prisioneiras, por obra e graça de alguma
bruxa). Tinha também Rapunzel, ou seja, era um castelo de verdade. E estava
escrito: “Castelo”, pra tirar qualquer dúvida.
O detalhe é que
Rapunzel naquele momento não estava à vista. Talvez estivesse com medo daquele
mundão de gente que passava em frente ao castelo. Ou talvez dormindo, porque
ainda era bem cedo.
Ia eu para o
aquecimento dos Passos de Anchieta, saindo de Barra do Jucu para chegar a Ponta
da Fruta, num solão de rachar, ou melhor, de esfolar qualquer pele desprotegida.
E ali, bem ali naquela rua, surge aquele castelo. Sempre tive uma queda por Rapunzel, apesar de
nunca ter cultivado tranças como uma das minhas irmãs que, infelizmente pra nós
e felicidade pra ela, espero, já está no Infinito. As tranças dela por certo dariam para
levantar um príncipe, tão grandes e fortes. Era um belo cabelo preto, que ela
usava enrolando as tranças em volta da cabeça, como uma coroa. Só que um dia,
pena, voltou de uma viagem a Bom Jesus da Lapa sem os cabelos. Com eles
curtinhos. Resultado daquelas famosas promessas que as mães faziam e as
coitadas das filhas precisavam cumprir, mesmo contra a vontade. Acabou a força,
como Sansão, e foi também o fim da beleza daqueles cabelos pretos e brilhosos. E,
pra completar, adeus minha motivação pra sonhar com Rapunzel.
Fiquei olhando o
castelo e me lembrando dessas coisas, das bruxas e princesas que povoaram minha
infância e eis que surge Fiona, ainda princesa, no colo do seu Shrek. Uma
princesa muito feia, nem chegava aos pés da Rapunzel. Mas, aí, acordei para
minha realidade: as princesas eram bonitas porque eu as via com os olhos da
infância, da inocência, quando tudo é bonito e colorido. Pior é que Fiona ficou
ainda mais feia depois pra se casar com seu príncipe mais do que feio que, ela,
certamente, achava bonito. O amor, sempre o amor, vendo as coisas com outro
olhar.
E aí veio o burro, com
aquela implicância toda, aquela amolação, e eu não quis mais ver princesa, nem
príncipe, nem Castelo, porque perto de mim passavam bravos lutadores (contra
moinhos de vento), caminhando, caminhando, para desafiar não sei o quê e eu os
segui, novamente, porque Dom Quixote eu sempre fui e acho que vou continuar
sendo, mesmo sem querer. Então, ando, ando, pareço um judeu errante, como diria
Adélia Prado. Não porque penso estar minha saúde no calcanhar, mas porque gosto
desse exercício diário, enquanto vou reparando aqui e acolá, seja gente, sejam
castelos ou simples casinhas com seus cachorros, pequenos ou grandes, mas
sempre nos dando sustos. Caminhei a manhã inteira e parte da tarde. Cansada e
feliz da vida.
Retorno a casa e chego
à varanda, para ver o mar com suas enormes ondas a cair na areia com estrondo.
Olho para cima e fico encantada com o colorido do céu, cheio de parapentes
flutuando no ar.
Ai, meu Deus! Que
vontade de voar!
E ali fiquei a sonhar...
Maria Francisca – 21 de
fevereiro de 2015.
Acho que a Rapunzel estava na caminhada também, afinal as princesas de hoje são pessoas normais!
ResponderExcluirVocê sabe disso, não é? Tem duas princesinhas... Bjs.
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