segunda-feira, 9 de março de 2015

Castelo e Sonhos



Hoje vi um castelo. Daqueles grandes, com direito a torres, prisioneiros, ou melhor, prisioneiras (porque as torres sempre tiveram prisioneiras, por obra e graça de alguma bruxa). Tinha também Rapunzel, ou seja, era um castelo de verdade. E estava escrito: “Castelo”, pra tirar qualquer dúvida.

O detalhe é que Rapunzel naquele momento não estava à vista. Talvez estivesse com medo daquele mundão de gente que passava em frente ao castelo. Ou talvez dormindo, porque ainda era bem cedo.

Ia eu para o aquecimento dos Passos de Anchieta, saindo de Barra do Jucu para chegar a Ponta da Fruta, num solão de rachar, ou melhor, de esfolar qualquer pele desprotegida. E ali, bem ali naquela rua, surge aquele castelo.  Sempre tive uma queda por Rapunzel, apesar de nunca ter cultivado tranças como uma das minhas irmãs que, infelizmente pra nós e felicidade pra ela, espero, já está no Infinito.  As tranças dela por certo dariam para levantar um príncipe, tão grandes e fortes. Era um belo cabelo preto, que ela usava enrolando as tranças em volta da cabeça, como uma coroa. Só que um dia, pena, voltou de uma viagem a Bom Jesus da Lapa sem os cabelos. Com eles curtinhos. Resultado daquelas famosas promessas que as mães faziam e as coitadas das filhas precisavam cumprir, mesmo contra a vontade. Acabou a força, como Sansão, e foi também o fim da beleza daqueles cabelos pretos e brilhosos. E, pra completar, adeus minha motivação pra sonhar com Rapunzel. 

Fiquei olhando o castelo e me lembrando dessas coisas, das bruxas e princesas que povoaram minha infância e eis que surge Fiona, ainda princesa, no colo do seu Shrek. Uma princesa muito feia, nem chegava aos pés da Rapunzel. Mas, aí, acordei para minha realidade: as princesas eram bonitas porque eu as via com os olhos da infância, da inocência, quando tudo é bonito e colorido. Pior é que Fiona ficou ainda mais feia depois pra se casar com seu príncipe mais do que feio que, ela, certamente, achava bonito. O amor, sempre o amor, vendo as coisas com outro olhar.
E aí veio o burro, com aquela implicância toda, aquela amolação, e eu não quis mais ver princesa, nem príncipe, nem Castelo, porque perto de mim passavam bravos lutadores (contra moinhos de vento), caminhando, caminhando, para desafiar não sei o quê e eu os segui, novamente, porque Dom Quixote eu sempre fui e acho que vou continuar sendo, mesmo sem querer. Então, ando, ando, pareço um judeu errante, como diria Adélia Prado. Não porque penso estar minha saúde no calcanhar, mas porque gosto desse exercício diário, enquanto vou reparando aqui e acolá, seja gente, sejam castelos ou simples casinhas com seus cachorros, pequenos ou grandes, mas sempre nos dando sustos. Caminhei a manhã inteira e parte da tarde. Cansada e feliz da vida.
Retorno a casa e chego à varanda, para ver o mar com suas enormes ondas a cair na areia com estrondo. Olho para cima e fico encantada com o colorido do céu, cheio de parapentes flutuando no ar.

Ai, meu Deus! Que vontade de voar!
E ali fiquei a  sonhar...
Maria Francisca – 21 de fevereiro de 2015.

2 comentários:

  1. Acho que a Rapunzel estava na caminhada também, afinal as princesas de hoje são pessoas normais!

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